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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Depoimentos: Tecnologia é sinônimo de qualidade na educação?

Tecnologia, conteúdo ou metodologia?

Em outubro passado, Judy Harris foi uma das convidadas para abrir o VI Encontro Internacional EducaRede e, já no vídeo que enviou como apresentação pessoal, fez provocações muito interessantes que deram o tom do que seria sua participação presencial.

Em uma delas, a pesquisadora pede que se relembre uma propaganda veiculada na TV americana em que se propõe a arquitetos que desenhem, projetem uma casa em volta de um determinado modelo de torneira.
É a mesma coisa que, freqüentemente, nesses últimos vinte e cinco anos, temos feito com educadores, diz ela. Desenhem experiências de ensino-aprendizagem em torno de uma determinada tecnologia, dispositivo, continua, sinalizando já a valorização excessiva do conhecimento tecnológico e suas implicações.

A analogia com a educação aparece por meio da uma imagem (ao lado) que ilustra com muita propriedade o questionamento que norteia todo trabalho da pesquisadora: Ferramentas são fundamentais. Mas são elas que devem configurar nossa ação pedagógica? Apesar de ferramentas serem poderosas, terem funcionalidades atraentes, muitas vezes sedutoras, não é em torno de, ou a partir de ferramentas que deveríamos planejar nossa aula, nossa atividade, nosso projeto pedagógico.

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quarta-feira, 23 de maio de 2012

TICs, telefones celulares e a escolassaura


A escola é, talvez, a instituição mais jurássica de todos os tempos (por que vivo repetindo isso?). Embora ela tenha o compromisso de educar a geração atual para um mundo futurista que nem nasceu ainda, e nem sabemos como será, ela mesma ainda vive na pré-história em diversos sentidos e não tem o menor desejo de “evoluir”, pelo menos o suficiente para chegar perto dos tempos atuais. Mas antes de concordar com isso, pense bem, caro leitor amigo: a escola não se encerra nos limites de seus próprios muros, ela se estende por toda a sociedade, e você, caríssimo leitor, também é responsável por essa escola jurássica e suas idiossincrasias.

Enquanto escrevo esse artigo, tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 2806/2011. Esse projeto é uma “extensão” de um projeto anterior que proibia o uso de telefones celulares em todo o país e, agora, “modernizado”, o projeto prevê a proibição de qualquer aparelho eletrônico portátil em todas as escolas e em todos os níveis de ensino, do infantil ao superior.

No Estado de São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro, no Ceará e em Rondônia (e talvez também em outros estados e municípios, pois as más idéias se espalham rápido) já há leis específicas proibindo o uso de telefones celulares e outros aparelhos eletrônicos pelos alunos.

Ao invés de entrar em uma polêmica tola sobre “se devemos permitir ou proibir o uso de celulares, games e outros brinquedinhos eletrônicos em sala de aula”, eu lhes pergunto algo bastante simples e objetivo: em que momento algum professor, alguma escola, algum pai de aluno ou algum governo defendeu ou defenderá que os alunos devam ir à escola apenas para jogar videogame, assistir vídeos no Youtube, bater papo no MSN ou fotografar o professor tirando caca do nariz para depois publicar no seu fotolog?

A mim, e espero que a você também, parece evidente que a escola não é apropriada para esse tipo de “diversão”, assim como não esperamos o mesmo comportamento em uma missa ou em um enterro (olha, eu juro que tentei comparar com outras situações, mas a escola está mais para missa e enterro do que para festa de casamento).

Por outro lado, faça um esforço e tente se lembrar de sua infância… Agora pense: se quando você era criança e estava na escola você tivesse um telefone celular onde pudesse jogar videogame, fazer filmes sacanas do professor ou dos colegas, trocar mensagens e fofocas instantâneas, ouvir música, etc., etc., será que você não o faria?

Eu não posso responder por você, mas posso responder por mim mesmo. Eu faria sim, às vezes. E sei que seria punido por fazê-lo (mas mesmo assim faria!). Hoje eu não faço mais, mas hoje eu sou adulto e, como agravante, sou professor, tenho sempre que dar exemplo de “bom comportamento” e, a bem da verdade, de qualquer forma essas coisas já não me interessam mais.

Pois bem, o mundo mudou, a tecnologia se espalhou por todas as partes, as possibilidades são imensas mas, mas, mas… As crianças e adolescentes de hoje continuam sendo crianças e adolescentes como nós mesmos fomos um dia! A tecnologia só lhes fornece novos meios de fazerem suas traquinagens, e eles as farão até que se tornem adultos e, talvez, acabem como pessoas “xaropes” como eu e você.

Alguns adultos parecem que se esqueceram que já foram crianças e agora não entendem mais nada sobre a infância e a adolescência. Esses adultos acreditam que publicando leis poderão mudar a estrutura neurológica, os hormônios e a psicologia das crianças e dos adolescentes. Isso é tão ridículo que parece traquinagem de adolescente que possui um brinquedinho novo de “assinar leis”.
Fato: mais da metade das crianças entre 7 e 9 anos de idade possui um telefone celular. Quase metade dessas crianças não recebe nenhuma orientação de uso desse brinquedinho tecnológico por parte de seus pais ou de seus professores!

Pergunta: se crianças e adolescentes possuem celulares (que ganham dos pais!) e não possuem orientação alguma, nem da família nem da escola, sobre como utilizá-los em diversos ambientes e situações e, além de tudo, são crianças e adolescentes e não adultos xaropes, como se pode esperar deles que não levem seus brinquedinhos à escola e, estando lá, não brinquem com eles?

Smartphone Optimus Black
Você não precisa de novas leis
Minha experiência com o uso de telefones celulares em classe
  • A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, para qual trabalho como professor, não possui condições para prover a escola de recursos materiais em quantidade suficiente para atender todos os meus alunos e, em contrapartida, a quase totalidade deles dispõe dos seguintes recursos próprios em seus telefones celulares:
  • calculadora;
  • agenda eletrônica;
  • bloco de anotações;
  • câmera fotográfica digital;
  • filmadora digital;
  • gravador de áudio digital;
  • acesso à internet;
  • dispositivo digital de reprodução multimídia (sons, imagens, filmes e animações);
  • Eu tenho um compromisso com a qualidade do ensino oferecido aos meus alunos que não me permite abrir mão de todos esses recursos oferecidos pelos telefones celulares;
  • O uso dos telefones celulares pelos meus alunos favorece sua aprendizagem permitindo práticas, dinâmicas e atividades que seriam inviáveis sem eles. Além disso, o uso dos celulares melhora a produtividade da aula permitindo ganhos de tempo e qualidade da aprendizagem;
  • Entendo que é parte do meu ofício como professor orientar meus alunos quanto aos bons usos do telefone celular de maneira a permitir-lhes que exercitem esse bom uso em atividades escolares cotidianas para que, por extensão, também o façam fora dos limites da escola (no seu trabalho, na sua casa e em diferentes meios de convívio). E eu não poderia fazer isso de forma efetiva sem que eles usassem os telefones celulares em minhas aulas.
  • fazer contas usando a calculadora;
  • agendar tarefas e provas na agenda do celular;
  • fotografar as minha lousas (eu sugiro esse método, ao invés da cópia da lousa no caderno, porque são alunos do Ensino Médio, porque isso garante maior fidelidade da informação, porque isso é uma atividade sustentável que evita o uso de papel e porque o celular permite armazenar as lousas do ano todo em parte insignificante de sua memória). Eu mesmo fotografo minhas lousas para ter o registro exato do que foi trabalhado em cada classe;
  • fotografar materiais didáticos indisponíveis para toda a classe, como páginas de um dado livro que a escola não dispõe para a classe toda;
  • registrar por meio de filmes e imagens as atividades práticas no laboratório ou fora da sala de aula;
  • desenvolver atividades no laboratório ou fora da sala de aula usando recursos de multimídia e outros disponíveis no celular (áudios/entrevistas, vídeos, imagens, apresentações, calculadora, cronômetro, etc.)
  • pesquisar conteúdos na internet (para os que têm smartphones);
  • usar como fonte de material de consulta em “provas com consulta” (podendo usar o conteúdo da memória do celular ou o obtido via internet ou redes sociais).
  • fazer ou receber ligações na sala de aula (isso eles podem fazer quando saem para ir ao banheiro);
  • jogar videogame, assistir vídeos, ouvir música, participar de redes sociais, navegar pela internet ou fazer qualquer outro uso que não tenha sido explicitamente solicitado por mim como parte de alguma atividade pedagógica;
  • produzir qualquer tipo de material (áudio, imagem, vídeo, etc.) não solicitado explicitamente por mim;
  • participar de redes sociais ou manter comunicações com outras pessoas, exceto quando isso faz parte de uma atividade e foi solicitado por mim.
  • Procuro orientar meus alunos sobre o uso seguro dos celulares e da internet de forma geral;
  • Discuto com meus alunos questões envolvendo ética, direitos autorais e violação dos direitos privados dos colegas;
  • Oriento-os a estabelecerem contratos de uso dos celulares com todos os demais professores, esclarecendo que cabe a cada professor determinar a forma como os telefones celulares podem ou não ser usados em suas aulas.
  • Projeto de Lei 2806/2011
  • : Proíbe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis nas salas de aula dos estabelecimentos de educação básica e superior.

Eles são úteis aos alunos e aos professores
Em outro artigo publicado nesse blog,Uso pedagógico do telefone móvel (Celular), eu já tratei de diversas possibilidades de fazer um uso adequado desses aparelhinhos em sala de aula, então agora só quero compartilhar algumas experiências que talvez possam ser úteis para que professores possam conviver melhor com esses “monstrinhos divertidos” ao invés de apostarem em leis caducas que não serão cumpridas e entrarão para a história como a lei de Jânio Quadros que proibia o uso do biquini nos concursos de miss(pode rir agora, mas à época também havia polêmica e defensores da proibição).

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) estabelece os direitos e deveres de todos os agentes envolvidos no processo Educacional. Estados e municípios também possuem legislações próprias garantindo direitos e deveres desses agentes.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) reforça a garantia à todos os alunos do direito à aprendizagem e, portanto, confere aos professores o dever de garantir esse direito em suas salas de aula.

Toda escola tem um regimento escolar interno que já estabelece direitos e deveres para alunos e professores.

Todo professor pode e deve estabelecer um regimento de conduta em suas aulas (o que chamamos vulgarmente de “combinados”) com os alunos.

Isto posto, fica claro que nenhum aluno pode, à revelia de todos os “combinados”, regimentos e leis, fazer o que bem entende na sala de aula, e isso inclui qualquer atividade que coloque em risco sua própria aprendizagem ou a aprendizagem dos seus colegas. Obviamente que aí se inclui qualquer brincadeira ou distração que não faça parte das atividades pedagógicas propostas pelo professor, quer seja ela feita com “brinquedos eletrônicos”, quer seja feita com brinquedos não eletrônicos (como jogar futebol dentro da sala, jogar baralho no fundão, andar de skate, etc.).

O que é fundamental aqui é que o professor esclareça seus alunos sobre seus direitos e, consequentemente, deixe claro as regras a que todos estarão submetidos para que se possa ter um ambiente saudável de aprendizagem onde esses direitos sejam respeitados por todos.

Não é óbvio para os alunos que eles têm que ter seu direito à aprendizagem garantido pelo professor e que, por causa disso, é o professor que pode e deve estabelecer quais usos são admitidos ou não para qualquer aparelho, objeto ou material presente na sala de aula.

No caso específico dos telefones celulares o professor deve deixar claro as situações em que esse aparelho será útil e aquelas onde ele deverá permanecer desligado.

É evidente que nem sempre os alunos seguirão as regras (Lembra-se? Eles são crianças e adolescentes e não adultos xaropes!) e toda vez que algum deles fizer uma transgressão ele deverá sofrer uma sanção proporcional à sua transgressão. Aqui é fundamental ter bom-senso e entender que ocorrerão várias transgressões, que será preciso ter paciência e compreender com naturalidade a natureza dessas transgressões e, por fim, que a autoridade do professor não pode ser abandonada em momento algum, da mesma forma que não pode ser transformada em autoritarismo. É precisoeducar o aluno para o bom uso do celular e não brigar com ele quando ocorre um mau uso.

A quase totalidade dos meus alunos possui telefones celulares e uma porcentagem considerável possui smartphones.
Em minhas aulas os alunos podem e devem trazer o telefone celular e usá-los dentro dos limites e regras que são discutidos, explicados e acordados logo no início do ano. Eu optei por permitir e estimular o uso pedagógico dos telefones celulares nas minhas aulas pelos seguintes motivos:

Meus alunos usam telefones celulares regularmente para:
Meus alunos não usam o telefone celular em classe para:

Além disso:

O número de vezes que tenho que intervir para garantir o uso correto dos celulares cai progressivamente ao longo do ano nas classes dos primeiros colegiais e é mínimo nas classes onde os alunos já me conhecem.

Nunca houve nenhum caso de mau uso do celular onde as sanções precisassem passar do nível da advertência verbal e discreta.

Os relatos de experiências de professores com os quais tenho contato em projetos que participo, nas redes sociais e em oficinas de formação onde atuo como formador dão conta de resultados bem parecidos com os meus. Logo, não apenas a “teoria” sobre o uso pedagógico do telefone celular, como também a prática, têm mostrado que é possível, viável e recomendável que ele seja usado cada vez mais em nossas aulas.

Finalmente, aos professores que imaginam que proibir o uso do telefone celular por meio de leis, ou da proibição do aluno levá-lo à escola, poderá ser um meio “mais fácil” de lidar com o problema do seu mau uso, eu deixo aqui uma pergunta bastante razoável: não seria mais “profissional” da parte do professor educar ao invés de proibir?

Referências na internet:

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):
ANTONIO, José Carlos. TICs, telefones celulares e a escolassaura,Professor Digital, SBO, 30 jan. 2012. Disponível em: <http://professordigital.wordpress.com/2012/01/30/tics-telefones-celulares-e-a-escolassaura/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].


quarta-feira, 4 de abril de 2012

terça-feira, 27 de março de 2012

O COMBINADO NÃO SAI CARO!!!


Em tempos de Internet, a necessidade de encontrar formas de avaliação adequadas às novas práticas pedagógicas surge com mais premência. O como e o o quê avaliar apresentam-se como desafios maiores do que sempre foram. 

Vamos tomar como exemplo uma das atividades mais comuns na Internet: a pesquisa

Se o aluno procura informações sobre o que é ser cidadão e digita "cidadão" no Google, encontra aproximadamente 32.000.000 resultados em 0,25 segundos.
Diante dessa oferta de informação em quantidade e velocidade assustadoras, como avaliar a tarefa? 


Como avaliar o resultado final dos esforços dos alunos?
Aqui estão alguns subsídios para se pensar uma avaliação adequada desse tipo de atividade que usa a Internet como recurso. 
Ao propor a tarefa aos alunos,apresentar claramente tema e subtemas a serem pesquisados;
  • relacioná-los a  interesses ou objetivos dos alunos;
  • descrevê-los de maneira instigante e envolvente;
  • relacioná-los a projetos em andamento na escola;
  • considerar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto;
  • explicitar conceitos ou princípios importantes que não podem deixar de ser abordados na pesquisa;
  • preparar esses alunos para a pesquisa sobre o tema e anunciar o ponto de chegada dessa tarefa.
Diz o ditado popular que o combinado não sai caro. Para avaliar adequadamente o desempenho dos alunos, combinar com eles o que se espera como resultado da atividade de busca. Veja os exemplos abaixo:
  • Compreensão de páginas da web e resposta escrita ou oral a algumas questões.
  • Produção de texto.
  • Análise de informações.
  • Articulação de informações obtidas em diferentes fontes.
  • Síntese de variadas fontes de informação.
  • Citação completa das fontes.
  • Formulação de questionamentos.
  • Relatório do caminho percorrido durante a pesquisa e critérios utilizados para a seleção das fontes.
  • Formação de opinião para argumentação em debate.
  • Produto criativo.
Outras dicas para facilitar a avaliação dos alunos, ou a auto-avaliação:
  • Divulgar amplamente os critérios para atribuição de nota ou comprovação de índice de sucesso.
  • Discutir objetivamente esses critérios com os alunos.
  • Criar mecanismos para registros de observação, para que se possa avaliar motivação, objetividade, interesse e determinação durante a realização da pesquisa.
Em resumo, é importante que essa avaliação reflita uma boa e sensata prática didática. Nada diferente dos "velhos tempos" quando não havia Internet, mas havia também bom senso e competência do professor.
Bom trabalho a todos!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Com tecnologia, uma criança aprende e ensina as outras


Crianças que usam tecnologia na escola tendem a fazer a autogestão do que aprendem e a compartilhar seu conhecimento com outras crianças, o que estimula a autonomia. Esse é o resultado de uma pesquisa realizada por Sugata Mitra, professor de tecnologia educacional do Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT, nos Estados Unidos.
mitraO estudo foi apresentado durante o evento de tecnologia Campus Party, que aconteceu em São Paulo (SP), entre 6 e 12 de fevereiro. Na ocasião, Sugata Mitra deu uma aula sobre as competências do saber, a importância do reconhecimento emocional na aprendizagem e as possíveis aplicações da informática na escola.
Suas considerações vêm de um projeto, iniciado em 1999, que se propunha a observar como crianças estudantes do ensino público de uma comunidade pobre de Nova Délhi, na Índia – país de origem de Mitra –, se comportavam diante de um computador de acesso livre, instalado em um buraco feito em uma parede.
Mitra observou que a presença da máquina e a possibilidade de usá-la fez com que as crianças ampliassem sua autonomia na busca por novos conhecimentos e ajudassem umas às outras nesse processo de pesquisa de informações. “Quando uma criança aprende, ela ensina a mais nova.  Juntas, elas aprendem mais coisas”, disse Mitra.
Os indicadores do estudo, que medem o quão proveitoso é o processo de aprendizagem das crianças, passaram de 30% para 50%. “Se funciona em Nova Délhi, onde as crianças crescem em meio a muitas precariedades, funciona em qualquer lugar”, considerou o pesquisador. De fato, ele obteve resultados semelhantes ao repetir a prática na China, no Uruguai, no Chile, na Inglaterra e nos Estados Unidos.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Uso de tecnologia na educação deve vir acompanhado de políticas pedagógicas, dizem pesquisadores

MEC e secretarias anunciam a compra de milhares de tablets; tecnologia na escola é importante, mas discurso da inovação “a qualquer preço” precisa ser visto com cautela




Após assumir o Ministério da Educação, Aloizio Mercadante – que saiu do Ministério de Ciência e Tecnologia – deu ênfase em vários de seus discursos ao uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) na Educação como alternativa para tornar a escola “interessante”. Uma de suas primeiras ações como ministro foi anunciar a compra de 600 mil tablets a serem distribuídos a professores de ensino médio, com o que se gastará cerca de R$ 180 milhões.


 “O arranjo social da escola e o quadro negro são do século 18, os professores, do século 20 e os alunos, do século 21. A reflexão internacional demonstra que o computador na escola deve começar pelo professor”, disse Mercadante, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo. 


 A medida parece ter desencadeado uma corrida por tecnologia nos estados. Em São Paulo, na última semana, o secretário estadual de eduação Herman Voorwald anunciou um investimento de R$ 5, 5 bilhões para, entre outros, compras de lousas digitais e tablets por meio de parceria público privada. Também em fevereiro, o Estado do Pernambuco divulgou a informação de que distribuiria 170 mil tablets a estudantes de 2º e 3º ano do ensino médio, resultado de uma licitação que custou R$ 170 milhões (mil reais por aparelho). 


 O Brasil está atrasado? As secretarias e ministérios deveriam eleger outras prioridades? (Nos dois estados citados, os respectivos sindicatos de trabalhadores em educação denunciam, por exemplo, problemas estruturais como falta de professores). Para os pesquisadores entrevistados pelo Observatório, é necessário que haja investimento em tecnologia, porém, junto com investimento em políticas pedagógicas. 


 Inovador não é sinônimo de qualidade 


 “Vivemos numa era em que inovador virou qualidade, passa a ser banalizado. Só de ser tecnologia já faz da coisa algo legal. Acho que não: a introdução tem que obedecer condições, tem que ser feita respeitando processos da escola, da comunidade, das reais necessidades”, discute Michelle Prazeres, pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, em que estuda mídias e tecnologias na educação paulista. 


 Michelle, apesar de defensora da tecnologia, vê a introdução apressada às escolas com cautela. Para ela, uma introdução pura e simples não adiantaria nada, mas se bem aplicada, a tecnologia poderia melhorar a qualidade da educação: fator mais importante da discussão, que justificaria a implementação das TICs. “Não adianta fazer o discurso da modernização de que está se promovendo a tecnologia se não se trabalha com projetos que modifiquem de fato a realidade da escola”. 


 As vidas humanas são cada vez mais informatizadas, e as escolas e as secretarias estaduais e municipais não são. As atribuições de classe, ao menos para o Estado de São Paulo, ainda são analógicas, tornando o processo lento e tortuoso. O espaço da tecnologia nas escolas são os laboratórios de informática, os computadores com internet da sala dos diretores, e não as salas de aula (informações da Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no Brasil : TIC Educação, de 2010, feito pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil). Segundo essa mesma pesquisa, 100% das escolas (urbanas) possuem pelo menos 1 computador, 93% têm internet (sendo 87% com banda larga), e 81% das escolas pesquisadas possuem laboratórios de informática. 


 Muitas vezes as escolas não sabem o que fazer com os artefatos de tecnologia e até proibem que alunos utilizem smartphones e celulares nos ambientes educativos, reprova Luciano Meira, professor de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, responsável pela criação das Olimpíadas de Jogos Digitais e Educação (OJE), um projeto especial da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. É uma rede social onde participa toda a comunidade escolar, e é rica em jogos (cujo substrato e desafios são matérias dadas em sala de aula). O desenvolvimento da OJE inspirou a criação da empresa Joy Street , de desenvolvimento e criação de jogos conversacionais. 


 Professores


 Entusiasta da ferramenta, o professor Luciano diz que essa rede social não existe para alterar os contatos sociais, mas pra criar mais espaços de diálogo, mais interação entre alunos e professores. E o professor que não quiser participar ajuda os alunos precisa apenas dominar seu conteúdo acadêmico: “Muitos professores não vão entrar na cultura digital, e eles vão ser úteis também: podem continuar contribuindo se construirmos ambiente de aprendizagem onde a curiosidade do aluno seja acolhida pelo professor”. 


 Um exemplo dado por Luciano é um jogo de biologia em que os alunos têm que atacar vírus dentro de um corpo humano. O professor de biologia ajudará os alunos nos desafios por saber explicar essa matéria – leia a entrevista completa aqui. 


 Para Luciano, a tecnologia não deve ficar “confinada” nos laboratórios de informática, em que fazem exercícios desinteressantes aos alunos. Uma sala de aula com todos conectados em alguma rede social, diz o professor, permitira uma troca mais rica: “O que aconteceria é que o que antigamente chamávamos de conversa paralela, apareceria na linha de tempo de todo mundo. Começaria a aparecer pra todos e não só para um grupo restrito”.


 Isso porque a aula tradicional, que dá mais voz ao professor, não potencializa quanto seria possível a voz do aluno e a troca. Michelle considera a OJE um bom exemplo de uma implementação de tecnologia. Porém a regra, diz, é os processos serem atropelados, com a mídia e a sociedade se seduzirem pelo discurso da inovação em si, e acabarem culpabilizando os professores, que estariam "freiando" a modernização da escola - sendo que são eles e elas o principal fator da boa educação. É um problema cair no discurso da "tecnologia de qualquer jeito", a qualquer preço, diz. 


 Um bom programa de inclusão tecnológica da escola, acredita, pode ser feita de forma fantástica em desktops, e uma simples compra de tablets de última geração podem ter um impacto mínimo, dependendo da forma como for aplicado. 


 Prioridade de investimento 


 A discussão sobre o financiamento que ganhou espaço no ano passado com o Plano Nacional de Educação fez a sociedade atentar-se a uma questão: faltam recursos para a educação. Apesar de tudo ser prioritário para investimento, inclusive a tecnologia, o professor Rubens Camargo acredita que o principal gasto tem que ser para pagamento de professores. Rubens é professor da Faculdade de Educação da USP e foi Conselheiro do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundef do Município de S. Paulo. 


 “Os salários dos professores no Brasil de norte a sul são irrisórios. Dá vergonha. É uma situação que só pode ter alternativa se colocada como prioridade. Para isso tem que ter muito mais recursos”. Depois de atendida essa prioridade de recursos, diz, viriam todas as outras. A tecnologia faz parte de um ambiente com condições adequadas de trabalho. Assim como uma biblioteca, são recursos físicos e materiais para as equipes montarem adequadamente seus projetos pedagógicos. 


 “Tem que ser tudo ao mesmo tempo. As carências no Brasil são de todas as naturezas em termos sociais, e a principal é carência é a da condição docente e os funcionários das escolas”. 

Fonte: http://www.observatoriodaeducacao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1140:uso-de-tecnologia-na-educacao-deve-vir-acompanhado-de-politicas-pedagogicas-dizem-pesquisadores&catid=48:sugestoes-de-pautas&Itemid=98